quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Naquela noite em que o meu coração parou.


Eu sei, não foi só o meu coração que parou. E, eu sei, essa metáfora só cai bem por que nossos corações pararam, e depois voltaram, explosivos, por ai.

Naquela época dividia a casa com um porco-não-praticante e um Corinthiano-ausente. O porco respeitava os momentos plenos de Corinthianismo que se faziam marcantes nas quartas, quintas, sábados e domingos daquela casa. O Corinthiano-ausente, esteve presente numa ou noutra destas situações.
Por se tratar do primeiro semestre de 2012 (havia omitido esse detalhe) sabemos: os momentos mais marcantes foram as noites de quarta feira. 
Foram 14 noites, 12 delas vividas nessa casa e na companhia do porco. E, na noite daquele segundo confronto contra o vasco, o meu, o seu, os nossos corações pararam quando o Alessandro deu todas as piadas envolvendo, até então, Corinthians e Libertadores, nos pés do Diego Souza, como quem diz: "vai lá Diego, faça essas piadas reinarem por mais um tempo".
Nesse momento, escorreguei do sofá para o chão da sala. Cássio desviou, e eu, aliviei. Respirado. Aliás, respirei aliviado. Escanteio pra eles e bola na trave.
"Créc", foi o som do coração parando. 
A pequena garrafa de cerveja foi deixada de lado. Esqueci que havia a opção de beber algo, ou mesmo que eu tinha boca pra beber, ou mesmo que eu tinha ou que eu existia. Eu só via.
Lembro, inclusive - e, sobretudo, com grande glória - do momento em que os caras vestindo um colete laranja por cima da roupa pularam as placas de propaganda e entraram no gramado e abraçaram o Paulinho.
Eu lembro que só entendi que o Corintias realmente havia marcado um gol, depois de alguns bons segundos da bola ter passado pelo goleiro deles e pelas traves e tocado as redes. Demorei pra entender. E demorei-me em gritar, aos berros, socando o chão duro de ardósia. E gritava para sentir que estava vivo novamente. E só fiz isso depois de ver os reservas entrando em campo.
Era uma noite fria, o corpo já estava aquecido em razão da cara cheia. Outro susto, no fim do jogo. Passou. Ufa.
"Vou pra rua".
O porco veio perguntar se tava tudo bem, se eu estava bem. "Vou pra rua". 
Ignorei o frio, ignorei qualquer destino que sabia devia seguir naquela noite, ignorei que havia uma manhã seguinte com obrigações e necessidade de presença noutro lugar. Abri a última cerveja da casa e fui pra rua. 
Ainda gritava, cantava, murmurava, berrava, um misto de tudo isso, não importa. 
Encontrei os pares Corinthianos já sentados nas cadeiras plásticas duma mesa plástica na calçada. Outros chegaram, a emoção era uma só. E todos (não eramos muitos) ainda estávamos eufóricos; e se não tinha chão de ardósia para socar, breves tapas na mesa absorviam a eletricidade ainda reinante em nossos corações recém parados e recém reativados.
"O bar vai fechar", "pô são paulino, desce a saidera pros Corintia ai, que que é isso".
"Não posso ir pra casa. Não agora, assim, desse jeito. Pelo Corintias, vou ficar na rua", resmunguei (certamente segurando o distintivo da camisa que eu vestia).
E fiquei, que nem aquela anedota, do macaco que vai de galho em galho, pra lá e pra cá. Eu nem imaginava que existiam fronhas do Corintias - depois descobri que havia também um kit de lençóis, mas isso foi depois - e então voltei pra casa. 
Chumbado, como a consciência do rapaz que perdeu o gol, que parou meu coração; extasiado, como a alma do rapaz que marcou o gol e reviveu meu coração. Caminhei para casa já acompanhado do sol nascente. Esquentei as mãos batendo uma contra a outra, marcando o ritmo para cantarolar a única melodia que podia ser cantada naquele amanhecer de bebedeira por ti Corintias: "salve o Corinthians, o campeão dos campeões...".


E foi assim que eu (sobre)vivi a noite do dia 23 de maio de 2012.


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