domingo, 24 de julho de 2011

Desventuras no Tobogã.

As desventuras se iniciaram na manhã da última quarta feira, quando fomos comprar ingressos e encontramos um Pacaembu de bilheterias fechadas; o site do Corintias, na noite da terça feira, não possuía a ressalva de que não seriam vendidos ingressos nas bilheterias do Templo na manhã seguinte, em razão do uso indevido do espaço naquele dia para outro jogo. Fomos comprar os ingressos na sede dos Gaviões, infelizmente, ingressos para o tobogã.
Hoje, na fila da tal "revista", após 30 minutos de curtos passos para adentrar nesta segunda fila, outra desventura (se é que podemos chamar de uma "desventura"). Enquanto tentava desenroscar a barra da calça dos calcanhares de meu tênis, uma voz grossa bradou aquela tão batida frase: "vai me desacatar?". Desisti da calça, e me foquei no que ocorria.
Um jovem, acompanhado de outros dois, carregava em um dos bolsos uma caixa de cigarros, tal qual esta aqui, e o senhor 'indesacatável' lhe disse que não poderia entrar com o objeto. O rapaz contestou, foi quando o senhor bradou o "vai me desacatar?", seguido de um "joga fora logo esse bagulho". O jovem, ainda tentando algum argumento para não perder a caixa, e nem o jogo, disse apenas que "é cigarro, não é bagulho".
A resposta delicada do Oficial foi pegar o rapaz pela camisa e o atirar, sabe-se lá por qual razão, em cima de mim. Desequilibrado pelo choque, cai em cima do homem que estava atrás de mim, segurando uma criança em cada mão. Este último chiou "ei, tem criança!". Seu protesto não continuou após um suave "cala boca se não sai você e as crianças".
A terceira desventura iniciou-se após passar pela catraca, quando adentramos naquela verdadeira e pura desventura, que é o próprio Tobogã.
Breve ressalva na narração das desventuras: concordo com aqueles que sugerem que o Tobogã seja um setor do estádio com ingressos, se não populares, no mínimo, "menos caros". Não se pode cobrar R$30,00 para se torcer sem ter visão plena do campo. Não importa o lugar que se fique naquele enorme retângulo, não há perspectiva para se acompanhar a bola: ela está indo para o lado, mas parece estar indo para frente, ela está subindo, mas parece que está sendo recuada. Talvez R$15,00 fosse o justo, talvez R$18,00, valor de arquibancada no Fiel Torcedor. Matemáticos e economistas, por favor.
Retomando aos ocorridos.
Além da questão "visibilidade", o tobogã fez-se como uma grande desventura hoje em razão dos torcedores, ou melhor, do público pagante trajando camisas do Corintias que ocupou aqueles degraus de cimento.
Já me irritei diversas vezes com esse público que, sem dúvidas, se irrita com a minha presença por ali. Me irrito pois o silêncio impera. Pior do que isso, por vezes é possível se ver pessoas batendo palmas no ritmo dos batuques que vem do chiqueirinho da torcida adversária. Quando se tenta romper o silêncio com gritos e cantos, um ou outro acompanham, em contrapartida à grande maioria de olhares discordantes, e, por vezes, de repreensões, demonstrando irritação com a minha irritação.
Me irrito com o romper do silêncio mediante gritos de "ôh, vamos sentar ai", ou de agudos gritos femininos entoando nomes de jogadores.
O "perigo de gol" faz-se extremamente presente por aqui, pois toda jogada que pode terminar nesta tão desejada prática do futebol, é cantada, gritada e vibrada com total antecedência: Jorge Henrique desce pela lateral e cruza, é "gol, gol, gol" pra todo lado; falta na intermediária, é "gol, chicão, gol". A zica, como digo aqui, não sei se existe de fato, o que existe quase concretamente é uma irritação, explosiva e desanimadora quando se grita gol antes dele ser.
Por fim, a última desventura.
Gritei, durante todo o jogo. Gritei sozinho, ignorei os olhares de estranhamento. Gritei, e a garganta dói, pois gritei com a força de empurrar aqueles 11 jogadores. Gritei, cantei, desafinei, perdi o ritmo. Mas gritei. E, terminado o jogo, tive certeza de que alguns me cobravam por "não empurrar o Corintias", pois atrevi-me a ofender o jovem Renan, que tentava fugir dos repórteres.
Se a cobrança fosse realmente a mim (mas não era), somada a todos os obstáculos listados acima e a esta equivocada derrota, sem duvida alguma, teria sido uma tarde para além de todas as desventuras que de fato foi...

Algumas imagens:



















quarta-feira, 20 de julho de 2011

Sobre honrar a história.

Em Fevereiro deste ano, quando o Gordo anunciou oficialmente a aposentadoria, e deixou de atrasar a nossa vida sendo um aposentado em campo, escrevi este texto para o 3 Toques. Nas linhas dele me refiro diversas vezes à 'genialidade' que teve o gordo na carreira, e como deve ser difícil "aprisionar" tal genialidade. Da mesma maneira, no final do texto, abordo que há gênios em todas as profissões do nosso sistema, e como é difícil para os que tem gosto em seus afazeres profissionais, puramente, parar.
Muitos de nós, que somos Corintias, volta e meia estamos por ai reivindicando um "corintianismo histórico", eu mesmo lancei no começo do ano um manifesto, colado nos espaços da faculdade, e sugerindo que esta história fosse levada em conta pelos estudantes daquele campus, que estão pensando alguma/qualquer coisa parecida com política, com trabalhadores, com etc.
Assim como compreendo a aposentadoria de Ronaldo e de demais pessoas que tem gosto no que fazem como dolorosas, entendo a atitude de Julio César na noite desta quarta feira (de ficar em campo, mesmo com uma dolorosa, e feia, fratura na mão), como sendo de extremo respeito à história do Corintias, de extremo respeito à esta nação de trabalhadores que não pode deixar o trabalho em razão de problemas físicos.
Fiquei emocionado, sim, com a atitude dele, de balançar a cabeça negativamente e dizer "eu vou ficar".
Assim como jogos do passado são lembrados por conta de atuações heroicas de jogadores, como Zé Maria com a camisa ensanguentada; lembro-me também do Senna, ganhando a corrida só com a quinta marcha; acho que esta atitude do mãos de alface deverá ser lembrada durante muitos e muitos anos, o que não quer dizer que eu o coloque no roll dos grandes ídolos. Hoje, ele foi bravo.
Enfim, fiquei emocionado, simplesmente, pois Julio honrou a razão de existir da camisa que veste, e, como disse ao sair do gramado, "assim é corintias", e assim tem que ser.